Era comum, na idade média, queimar-se bruxas em fogueiras públicas. Estranhamente, a bruxaria parece ter sido naquele tempo uma actividade apenas praticada por mulheres.
Hildegarda de Bingen, no século XII, afirmava receber visões de Deus [1], e dedicava-se a actividades que eram muito raramente permitidas a mulheres, como por exemplo a medicina e a teologia. É importante notar que Hildegarda vivia numa sociedade maioritariamente controlada pela Igreja, uma sociedade obviamente controlada por homens. A questão impõem-se: porque não foi Hildegarda para a fogueira? A teoria que vamos defender é que Hildegarda nunca chegou a ser, na sua sociedade, uma mulher.
Ao explicarmos como eram justificadas e permitidas estas fogueiras, explicaremos ao mesmo tempo porque Hildegarda não acabou numas delas. A pergunta que devemos fazer é: quem é que era queimado vivo? Uma mulheres ou uma bruxa? É certo que se tratavam de bruxas. Este tremendo esmagamento ontológico por parte da sociedade justificava as suas acções. Na verdade, é o sujeito que define a fogueira: se uma acto de justiça ou de barbárie. Este esmagamento ontológico pode ser observado ainda hoje em muitas ocasiões: na guerra, com o esmagamento do Homem pelo inimigo; nos tribunais, com o esmagamento do suspeito pelo culpado; ect.
Hildegarda conseguiu libertar-se do estatuto de mulher, escapando ao esmagamento ontológico que muitas outras sofreram: Hildegarda era vista como veículo de transmissão divina. Além disso, é sabido que era também misógina, o que vem reforçar a tese que se libertou propositadamente do feminino. Enquanto mulher, teria tido grandes dificuldades em fazer aceitar as suas actividades à sociedade. Hildegarda criou o seu próprio esmagamento ontológico. A mulher foi esmagada por um ser que recebia visões de Deus.
Simone de Beauvoir trata do carácter místico que as mulheres se podem adquirir: “S’il suffit souvent d’un peu de beauté e d’intelligence pour que la femme se sente revêtue d’un caractère sacré, à plus forte raison quand elle se sait l’élue de Dieu, elle se pense chargée de mission : elle prêche des doctrines incertaines, elle fonde volontiers des sectes, ce qui lui permet d’opérer, à travers les membres de la collectivité qu’elle inspire, une enivrante multiplication de sa personnalité.” [2]. E certamente como foi o caso para Hildegarda, é esta mistificação que a vai projectar, enquanto acção positiva, na sociedade. [3]
Se Hildegarda não recebeu verdadeiramente visões divinas, isto significa que terá propositadamente e engenhosamente modificado, ao olhos da socidade, a sua identidade.
Hildegarda de Bingen, no século XII, afirmava receber visões de Deus [1], e dedicava-se a actividades que eram muito raramente permitidas a mulheres, como por exemplo a medicina e a teologia. É importante notar que Hildegarda vivia numa sociedade maioritariamente controlada pela Igreja, uma sociedade obviamente controlada por homens. A questão impõem-se: porque não foi Hildegarda para a fogueira? A teoria que vamos defender é que Hildegarda nunca chegou a ser, na sua sociedade, uma mulher.
Ao explicarmos como eram justificadas e permitidas estas fogueiras, explicaremos ao mesmo tempo porque Hildegarda não acabou numas delas. A pergunta que devemos fazer é: quem é que era queimado vivo? Uma mulheres ou uma bruxa? É certo que se tratavam de bruxas. Este tremendo esmagamento ontológico por parte da sociedade justificava as suas acções. Na verdade, é o sujeito que define a fogueira: se uma acto de justiça ou de barbárie. Este esmagamento ontológico pode ser observado ainda hoje em muitas ocasiões: na guerra, com o esmagamento do Homem pelo inimigo; nos tribunais, com o esmagamento do suspeito pelo culpado; ect.
Hildegarda conseguiu libertar-se do estatuto de mulher, escapando ao esmagamento ontológico que muitas outras sofreram: Hildegarda era vista como veículo de transmissão divina. Além disso, é sabido que era também misógina, o que vem reforçar a tese que se libertou propositadamente do feminino. Enquanto mulher, teria tido grandes dificuldades em fazer aceitar as suas actividades à sociedade. Hildegarda criou o seu próprio esmagamento ontológico. A mulher foi esmagada por um ser que recebia visões de Deus.
Simone de Beauvoir trata do carácter místico que as mulheres se podem adquirir: “S’il suffit souvent d’un peu de beauté e d’intelligence pour que la femme se sente revêtue d’un caractère sacré, à plus forte raison quand elle se sait l’élue de Dieu, elle se pense chargée de mission : elle prêche des doctrines incertaines, elle fonde volontiers des sectes, ce qui lui permet d’opérer, à travers les membres de la collectivité qu’elle inspire, une enivrante multiplication de sa personnalité.” [2]. E certamente como foi o caso para Hildegarda, é esta mistificação que a vai projectar, enquanto acção positiva, na sociedade. [3]
Se Hildegarda não recebeu verdadeiramente visões divinas, isto significa que terá propositadamente e engenhosamente modificado, ao olhos da socidade, a sua identidade.