quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Memórias de guerra (1944-1945), III

O inimigo chegou na manhã de domingo pouco antes do início da missa. Grande parte dos soldados estavam feridos, cansados e esfomeados, desarmados, nos olhos o olhar de uma alma a sustentar um corpo apenas por misericórdia, a arrogância de uma convicção algures desaparecida, a convicção há seis meses atrás dentro da própria alma, nas pernas e nos braços, nos ombros que carregados de belas espingardas, o objecto imagem de uma força esmagadora, há seis meses atrás um festival, um desfile militar, hoje uma procissão fúnebre, uma subida ao calvário, se houvesse mortos um funeral, mas esses ficaram lá atrás enquanto que os vivos fugiam da mesma sorte. A aldeia e o inimigo entraram juntos na igreja. Uns rezaram para o fim da guerra, outros rezaram para o regresso da paz. Quando a missa terminou, as tropas que perseguiam o inimigo já se encontravam na praça da igreja. Dois inimigos foram capturados. Todos os outros foram metralhados num dos cantos da praça. O inimigo poderia ter escapado.

Consciência da irrecuperabilidade do tempo

A obsessão pelo tempo foi substituída por um mórbido e desobediente desprovimento de vontade. A consciência nervosa, a urgência obcecada e...