sexta-feira, 20 de março de 2009

A imperatriz

A imperatriz acreditava no fatalismo. Do alto da sua varanda, o mundo um jardim eterno, as fontes opulentas com as suas bocas de pedra em vómitos contínuos, a imperatriz acreditava no fatalismo e no entanto, a imperatriz não se diz fatalista. Porque já não mais acredita no fatalismo? Não pode a imperatriz acreditar no fatalismo enquanto não-fatalista? Ah, que terrível enigma meu amigo. Em primeiro lugar, não nos podemos esquecer que o sujeito da nossa divagação é nem mais nem menos do que a soberana imperatriz da nossa grande nação. Na verdade meu amigo, estamos a tratar é da nossa nação e de como traçado o seu caminho pelos vales do tempo. Se a nossa imperatriz não acreditava no fatalismo, concluímos intuitivamente pela natureza da frase que a nossa imperatriz hoje já nele acredita. E no entanto sabemos que ela não é fatalista. Antes de tentarmos avançar mais no problema e saber como possível tal afirmação, meu amigo, discutamos antes sobre o significado de tal conclusão para a nossa nação. Parece-me correcto afirmar que se acontecer à nossa nação seguir um dos árduos e difíceis caminhos pelos vales do tempo, pouco ou nada a nossa imperatriz se espantará se o sábio povo fatalista que é o nosso se enraivar com as suas governações sem no entanto a moralmente castigar. Pois bem, se lá em cima estava escrito que a nossa imperatriz seria de má temperança para conduzir nações, que bem se pode fazer senão sermos filósofos e na mais pura temperança aceitarmos este fado? E eis porque certamente optou sabiamente a imperatriz por acreditar no fatalismo. Tenho a certeza que o meu amigo já deve ter reparado que sem querer responder directamente as perguntas que corajosamente há pouco nos colocamos, vemo-nos subitamente com uma delas respondida e com a outra praticamente desvendada: sendo a imperatriz a senhora suprema da nossa nação, como poderia ela delegar esse seu supremo poder a outra entidade que senão à sua própria pessoa e atribuir a responsabilidade do governo a uma força tanto invisível como inoportuna e inconcebível? Dito por outras palavras, de que serviria o poder de uma imperatriz se ela mesma comandada por um desígnio superior e inalcançável? E eis porque certamente optou sabiamente a imperatriz por não se dizer fatalista. E ora assim temos as nossas dúvidas respondidas! Que perspicaz imperatriz a nossa meu amigo!

Consciência da irrecuperabilidade do tempo

A obsessão pelo tempo foi substituída por um mórbido e desobediente desprovimento de vontade. A consciência nervosa, a urgência obcecada e...