O rapaz mesmo a sua frente, ela sentada na cama começava a tirar a roupa. Com cuidado, despe os braços das frágeis mangas, tão frágeis parecem as finas mangas da camisola, a lã tão quentinha no seu corpo, devagar pela cabeça, o seu liso longo cabelo cor de negro através do colarinho, no silêncio absoluto do quarto desarrumado pela rápida ocupação, tão profundo este silêncio que acho poder ouvir o seu coração, de tanto bater o seu coração que tenho a impressão de ter perdido o meu, tão caladinho, o rapaz mesmo a sua frente, o momento mais erótico da sua vida num silêncio tão absurdo como impossível, morteiros mudos, sirenes mortas, o céu tão limpo de aviões que quase consigo apesar da luz do Sol contar todas as estrelas da noite.
Consciência da irrecuperabilidade do tempo
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