sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A transformação da realidade pela comunicação: 2. A comunicação e a realidade

Constatamos que a comunicação está na base da construção dos valores que atribuímos à realidade física. Esta comunicação, esta troca de informação sobre o meio que nos envolve, esta interacção constrói em cada um de nós uma realidade, uma visão do mundo. Construímos uma realidade comunicando-a.

Parece existir entre as diferentes formas de comunicação uma forma cujas as propriedades são mais propícias para comunicar a realidade: a comunicação por via da imagem: “Como afirmam os especialistas em comunicação: a imagem, quando é forte, oblitera o som e o olho vence sobre o ouvido. Algumas imagens são hoje muito vigiadas, ou, para ser mais concreto, algumas realidades são estritamente proibidas à imagem, sendo este o melhor meio para as ocultar. Não há imagens, não há realidade.”[2]. É importante perceber isso: antes da existência de uma comunicação que nos vai permitir de construir a nossa própria realidade, a nossa visão do mundo, existe uma comunicação do mundo, uma comunicação da realidade física.

Se cada pessoa tem um acesso único ao mundo, então todas as pessoas têm uma visão única do mundo. O problema desta afirmação reside na existência dos médias de informação que generalizam o acesso à realidade. Utilizaremos um exemplo para explicar esta situação: quando vemos na televisão um sítio que não conhecemos e onde nunca estivemos, tomamos naquele instante conhecimento da existência de uma pequena realidade física. Associamos depois a esta nova realidade física determinados valores, ou seja considerações, significações, criamos a nossa realidade sobre este pequeno pedaço do mundo que acabamos de entrever no nosso pequeno ecrã. Ao mesmo tempo muito outros telespectadores vão também tomar conhecimento deste sítio e criar considerações. Existe uma tendência, causada pela existência dos médias, para uma universalização do conhecimento do real. Se de um lado isto permite aumentar o nosso conhecimento da realidade física do mundo, esta comunicação generalizada da realidade, associada a certas patologias da comunicação, pode ser do outro lado um instrumento para uma banalização e uniformização global da realidade metafísica.

A comunicação generalizada da realidade através dos médias e do jornalismo é o tema do próximo ponto.


[2] "Comme l’affirment les experts en communication : l’image quand elle est forte, oblitère le son et l’œil l’emporte sur l’oreille. Certaines images sont désormais sous très haute surveillance, ou, pour être plus précis, certaines réalités sont strictement interdites d’images, ce qui est le moyen le plus efficace de les occulter. Pas d’image, pas de réalité." Ignacio Ramonet, La tyrannie de la communication, Paris, Galilée (Folio actuel), 1999, p. 46.

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