sábado, 9 de janeiro de 2010

A transformação da realidade pela comunicação: 1. A realidade

A comunicação interfere na realidade? Pode ela a modificar? De que tipo de comunicação estamos nós a falar e como definir ou circunscrever a realidade (ou o real) potencialmente modificado? Que interacção existe entre os dois conceitos?

Antes de tentarmos saber se a comunicação tem o poder de modificar a realidade, é necessário compreender e definir o que chamamos a realidade ou o real. A realidade é geralmente reconhecida como todo o universo físico que podemos conhecer através dos vários sentidos do nosso corpo. A realidade é então um simples espaço que observamos. Eis agora uma outra perspectiva sobre o conceito da realidade que nos será de uma grande utilidade para compreender como a comunicação a pode modificar: “ […] fazemos uma confusão entre dois aspectos diferentes daquilo que chamamos a realidade. O primeiro faz referência às propriedades puramente físicas, objectivamente sensíveis das coisas, e é intimamente ligada a uma percepção sensorial correcta, num sentido “comum”, ou a uma verificação objectiva, repetível e científica. O segundo refere-se à atribuição de um significado e de um valor a essas coisas, e fundamenta-se sobre a comunicação.”[1]. Apesar de podermos observar com os mesmos meios o mundo que nos rodeia, não o entendemos da mesma maneira. Esta distinção entre duas realidades, uma física e outra metafísica, uma dos objectos e uma outra dos valores, desvende uma lógica e um mecanismo onde a comunicação pode ter de facto uma função na modificação, ou até na criação dessa segunda realidade, cuja existência seria bastante difícil ou até mesmo impensável numa definição da realidade puramente física. É com estas noções que iremos abordar a comunicação no âmbito da realidade.


[1] "[…] on fait une confusion entre deux aspects différents de ce que nous appelons la réalité. Le premier a trait aux propriétés purement physique, objectivement sensibles des choses, et est intimement lié à une perception sensorielle correcte, au sens «commun» ou à une vérification objective, répétable et scientifique. Le second concerne l’attribution d’une signification et d’une valeur à ces chose, et il se fonde sur la communication." Paul Watzlawick, La réalité de la réalité. Confusion, désinformation, communication, Paris, Le Seuil, 1978, p. 137.

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